"Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse “para onde estamos indo?” - não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso rígido, desprovido de qualquer dúvida: 'estamos indo sempre para casa'".
Lavoura arcaíca - Raduan Nassar
Lavoura arcaíca - Raduan Nassar
O tempo senhor do destino se encarrega de readequar os propósitos da vida. Era assim que eu divagava e me distanciava de tudo aquilo que um dia me compôs, numa quase noite de réveillon eu percebia como o dia, que antecedia o nascimento de um ano bebê, morria.
O ar se condensava e o tempo se estendia em fatias espessas me obrigando a olhar para minha vida, de repente um telefonema. Eram as contas sentimentais que eu protelava tanto para acertar com aquele que um dia partiu sem saber o quanto me doía agora e sempre a falta que seu lugar à mesa de homem da casa fazia.
Eu tentava não embargar a voz e me mostrar o mais forte que eu conseguia, não podia me dar ao luxo de sentimentalismos toscos em plena véspera fúnebre de morte e nascimento, os compassos do relógio espalhavam minhas lágrimas na cadência desordenada de um tic tac sem fim, era uma bomba prestes a explodir, era uma agonia de morte e um sopro de vida.
No computador surgiam as inúmeras ramificações do passado e o presente se transformava em incerteza pelas coisas que fiz, pelas coisas que deixei de fazer e pelas coisas que eu não poderia mais me arrepender de ter feito.
O tempo senhor do destino se encarrega de readequar os propósitos da vida - nessa falta de raiz, nesse chão arenoso e movediço eu procuro calcar a estabilidade que protela em chegar, minhas dividas sentimentais me assolam - é hora de morrer ano sangrento! - é hora de quebrar a linearidade do tempo num pequeno átimo de metafísica que transforma o velho em novo, o número 23:59 se torna 00:00, um choro derradeiro, um passo para o espaço e a obrigatoriedade de sonhar. É tudo novo de novo e de novo num ciclo sem fim, deve ser a tal 'vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro'.
Eu tenho medo do relógio não virar dessa vez, do agonizante vegetar, da fada da prosperidade esquecer o número da casa onde eu estarei esperando sua visita, do feto nascer morto.
O ar se condensava e o tempo se estendia em fatias espessas me obrigando a olhar para minha vida, de repente um telefonema. Eram as contas sentimentais que eu protelava tanto para acertar com aquele que um dia partiu sem saber o quanto me doía agora e sempre a falta que seu lugar à mesa de homem da casa fazia.
Eu tentava não embargar a voz e me mostrar o mais forte que eu conseguia, não podia me dar ao luxo de sentimentalismos toscos em plena véspera fúnebre de morte e nascimento, os compassos do relógio espalhavam minhas lágrimas na cadência desordenada de um tic tac sem fim, era uma bomba prestes a explodir, era uma agonia de morte e um sopro de vida.
No computador surgiam as inúmeras ramificações do passado e o presente se transformava em incerteza pelas coisas que fiz, pelas coisas que deixei de fazer e pelas coisas que eu não poderia mais me arrepender de ter feito.
O tempo senhor do destino se encarrega de readequar os propósitos da vida - nessa falta de raiz, nesse chão arenoso e movediço eu procuro calcar a estabilidade que protela em chegar, minhas dividas sentimentais me assolam - é hora de morrer ano sangrento! - é hora de quebrar a linearidade do tempo num pequeno átimo de metafísica que transforma o velho em novo, o número 23:59 se torna 00:00, um choro derradeiro, um passo para o espaço e a obrigatoriedade de sonhar. É tudo novo de novo e de novo num ciclo sem fim, deve ser a tal 'vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro'.
Eu tenho medo do relógio não virar dessa vez, do agonizante vegetar, da fada da prosperidade esquecer o número da casa onde eu estarei esperando sua visita, do feto nascer morto.
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