domingo, 6 de novembro de 2011

Evocação

I.

"Não chores tanto, Marília,

por esse amor acabado:

que esperavas que fizesse

o teu pastor desgraçado,

tão distante, tão sozinho,

em tão lamentoso estado?"

A bela, porém, gemia:

"só se estivesse alienado!"

Cecília Meireles


II.

"Marília, tu chamas?

Espera, que eu vou!"

Tomás Antônio Gonzaga


Pelas portas que adentrei conheci Vila Rica, aquela protegida pelo gênio original

-Tomás Antônio Gonzaga, o exilado, e sua casa,

casa de mil portas,

casa de mil ares.

Marílias se descortinam

em horizontes e janelas.

Marília efígie de rosto virado,

passarinho

que revela tempos idos.

Marília doce amada do poeta,

esquecida,

extraviada,

trocada.

Marília nos morros,

Marília na vista,

revista,

transfigurada,

deixada.

Marília, imagem

deformada,

empoeirada

que regressa

nas quadrinhas

bobas, apaixonadas e

insubstanciadas de verdade

no peito de um triste pastor que anseia por escuta.

Marília centenária.

Marília encarquilhada.

Marília eterna.

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