domingo, 20 de janeiro de 2008

Briga de Casal


a Genivaldo de José

O quarto estava ali, com suas estantes, sua cama, seus criados mudos, sua escrivaninha, sua TV de vinte e nove polegadas da marca CCE, alguns livros, cinzeiros, cobertas, cinzas, sapatos, meias, calças, camisas, toalha molhada, cinzas, cinzas, cinzas...

Lá estava a janela, posta em cima da cama, e a fresta estava aberta e daquela fresta um raio de luz cortava o escuro, como uma faca entrando no peito do jagunço, pensei comigo que ninguém nunca percebeu como o céu fica limpo algumas horas antes do dia nascer.

A lua brilha intensa, tontinha, ingênua às três horas da manhã achando que os casais são felizes e que se amam pelas ruas contemplando um lirismo cafona e antigo.

“Lua cretina mal sabes como são claros os pesares desse peito!”

São três horas e ele lá fora, na rua, onde está o rum, eu sei há de ter uma garrafa de outro dia, maldito rum...Ah! Esse gosto puro e quente que me desce goela abaixo, me faz divagar essa lâmina lunar estancando o breu alcoólico desse quarto que teima em me afogar enquanto ele não chega.

São cinco e cinquenta e dois, o quarto continua aqui, abro meus olhos embaçados, onde estou, o cinzeiro a cama as estantes a TV as cinzas as cinzas ah! Cinzas...Acho que acordei com o tilintar de chaves no portão, o rum onde está o rum...Vazio do outro lado da cama. Ele abriu o portão, a lua, foi, embora, ele abriu o portão, a lua, foi, embora, ele subiu degrau por degrau do maldito corredor cantarolando El dia que me quieras.

Eu sei que ele está do outro lado dessa porta sem encontrar a chave redondinha, se, se, se eu, seu eu pudesse eu até levantaria. Mais cinco minutos e ele abre a porta, ah, a luz inunda o quarto e ele não me viu.

Fechou a porta, não achou o interruptor, me procurou, tateou o lençol revirado, derrubou as cinzas, chutou a garrafa, acendeu o cigarro, tirou os sapatos, desabotoou a camisa, sentou na cama, me procurou, receou chamar pelo meu nome, ensaiou, murmurou, cerrou os dentes, mas fui mais ágil:

“estou aqui.”

“ oi meu bem?Desculpe, eu, estava...” esbaforiu uma mentira opiante.

“dorme querido, antes que o sol nasça.”

Deitamos na cama e dormimos antes do dia raiar. Afinal, ninguém gosta de dormir com o sol nascendo na janela.

11 comentários:

Anônimo disse...

Querido!
Afinal, ninguém gosta de dormir com o sol nascendo na janela.

marcela primo disse...

§

Que bonito!

=/

§

H. Henrique disse...

Lindo!

Até que enfim se pronuncia!

felipemaia disse...

O id projetado em forma de eu lírico condoído...
Muito bom!
:D

O Velho disse...

Você está tendo um caso com o Gê!!

rsrs

Brincadeira.

Lindo texto!

;-)

UMA BANDOLEIRA disse...

Entrem!!!!!!!!!!!!

www.umabandoleira.blogspot.com

Marcela q saudade de vc!!

Murillo! E nossas conversas sem pé e nem cabeça, mas cheias de sofrimento e compreensão!!!!

Lambidas

Anônimo disse...

hi i'm moghrama sorry i don't speak spanish your blog is beatiful

marcela primo disse...

§


Spanish?

o.0

§

O Menino Trovador disse...

Spanish???rsrs

Bruce Willis!!!

marcela primo disse...

§

Murillo,

me dei conta agora de como Moghrama chegou até nosso blog.

Na verdade, fui eu quem a trouxe. Ela é uma blogueira da Tunísia, e os idiomas que conhece são árabe, francês e inglês... =]

Passa no blog dela vc também. Tenho a certeza de que vai gostar. Além de bonito, é bastante engajado na luta contra a censura:

http://fatounar.blogspot.com/

§

Salut, Moghrama!

Nous, moi e mon ami, sommes hereux pour votre visite.

Bienvenue chez-nous!

§

marcela primo disse...

§

Murillo,

o que você quis dizer com "Bruce Willis"?

o.0


Viajei... rsrs

§