Neste beco tão florido e silencioso fica a casa eterna daqueles que têm meu nome. Aqueles que eu conheço e que me compadeço. Moram ali quatro meu bisavô, seus dois varões e aquele que mora lá antes do tempo.
Eu os visito em tempos esparsos, em tempos de adeus, caminho descendo aquela pequena ladeira e passo por casas conhecidas, por pessoas que eram antes que eu fosse, passo por pessoas que partiram antes que eu pudesse chegar. São casas singelas, pequenas e apertadas, mas que guardam grandes memórias.
A brisa toca meu rosto e ao longe além dessa cidade silenciosa o sol alaranja o mármore, as folhas despencam das árvores na minha frente e cobrem um chão de adeuses e louvam do chão os deuses, implorando misericórdia para quem dorme.
Caminhando, descendo, percebo que um desconhecido preocupa-se em lavar os quintais e a água desce, escoando, escorrendo, seguindo o fluxo da ladeira intermitente levando folhinhas, lavando pedrinhas, passando pelas raízes desobstruindo passagens, seguindo, perdendo o volume, se diluindo, tornando-se umidade do chão.
Logo chego no portão da casa dos meus compadecentes, mas não ouso chamar. Eles dormem.
Olho para a casa como aquele que olha para as estrelas em busca do infinito. Olho para a casa, como aquele que olha nos olhos da pessoa amada buscando o eterno. Porém o eterno se desfaz e o infinito silencia, agora somos paz, agora somos silêncio.