segunda-feira, 31 de março de 2008

Cidade do Silêncio



Neste beco tão florido e silencioso fica a casa eterna daqueles que têm meu nome. Aqueles que eu conheço e que me compadeço. Moram ali quatro meu bisavô, seus dois varões e aquele que mora lá antes do tempo.
Eu os visito em tempos esparsos, em tempos de adeus, caminho descendo aquela pequena ladeira e passo por casas conhecidas, por pessoas que eram antes que eu fosse, passo por pessoas que partiram antes que eu pudesse chegar. São casas singelas, pequenas e apertadas, mas que guardam grandes memórias.
A brisa toca meu rosto e ao longe além dessa cidade silenciosa o sol alaranja o mármore, as folhas despencam das árvores na minha frente e cobrem um chão de adeuses e louvam do chão os deuses, implorando misericórdia para quem dorme.
Caminhando, descendo, percebo que um desconhecido preocupa-se em lavar os quintais e a água desce, escoando, escorrendo, seguindo o fluxo da ladeira intermitente levando folhinhas, lavando pedrinhas, passando pelas raízes desobstruindo passagens, seguindo, perdendo o volume, se diluindo, tornando-se umidade do chão.
Logo chego no portão da casa dos meus compadecentes, mas não ouso chamar. Eles dormem.
Olho para a casa como aquele que olha para as estrelas em busca do infinito. Olho para a casa, como aquele que olha nos olhos da pessoa amada buscando o eterno. Porém o eterno se desfaz e o infinito silencia, agora somos paz, agora somos silêncio.

3 comentários:

Unknown disse...

linda a sua passagem pelo seu passado, pelso seus antecessores...pelas vielas e casas de ares de abandonadas...ao vento...

é bom mesmo pra repensarmos a nós mesmos...um lance existencial.

Pensarmos o sentido da vida, não?

Saudades do meu eterno namorado!!!

beijinhos! Terra.

Adriano Veríssimo disse...

[suspiro]

Puxa que saudade que bate de uma senhora, bonitinha, que descia a ladeira de casa, com passinhos curtos, rapidinhos, mas curtos. Ela, branquinha, evangélica, com sua biblia na mão direita, uns setenta anos, sua boquinha murcha, balbuciando algo...Ela era fofa, uma das primeiras moradoras da região...a mais ou menos um ano ela se foi e hoje ela não passa mais pela rua, rapidinha, bonitinha. Hoje a rua é ocupada pelos sons das crianças correndo e o barulho dos sons altos. Acho que ninguém percebia, mas ela era especial.

Essas coisas são tão belas. Essa gente é tão importante.

Essa música me fez lembrar um espetáculo que não saiu dos ensaios, e lembro que o coral cantava tão lindamente. Foi a primeira vez que ouvi essa musica, tão bonita, tão "humilde", como a "gente".

rs

Beijo queridos
Menino Trovador e Marcela)

Adri

maopequena disse...

Deu saudades da minha escada também...

Beijos pra vocês!!!