quarta-feira, 30 de abril de 2008

Arlequinal

Edward Hopper, Excursion into Philosophy, 1959.


As vidas estilhaçadas
compõem desiguais caminhos
— retalhos originais

"Os versos que escrevias,
enquanto juravas amor
à humanidade vil,

sempre foram canto hostil.
Não pensaste nunca a flor
que teu falo recebia."

Entre palavras armadas,
estamos, assim, sozinhos.
Não há quem cante os meus ais.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Eclipse

estranho que, no meu riso, haja sempre o siso
em meu amor, mil formas de não amar
se ora me escondo, ora me entrego
eclipsante, como as faces do luar
mas nova, plena ou minguante
não é, ainda, a mesma lua?
não sou a mesma e tua,
dependente de luz
de estrela para
brilhar?


* ao meu amor, minha lhama, meu sol

quarta-feira, 9 de abril de 2008

"Medo de estar..."

(arte de Flor Garduño)

para a Dê

Medo de estar sob teus olhos e ao alcance de tua voz;
Desejo de me render ao teu domínio e desfalecer em teu colo.

São puros os meus desejos; os medos, imemoriais.

Minha face tomada pelo perfume em teus cabelos;
minha boca em teus ombros: embriaguez.

São puros os meus desejos; os medos, imemoriais.

Minhas mãos, amantes, em tua pele de lírio;
Nossos lábios unidos, luz das manhãs.

São puros os meus desejos; os medos, imemoriais.

O frêmito em teu corpo na morada dos meus braços;
nossas pernas enlaçadas, teias de amor.

São puros os meus desejos; os medos, imemoriais.

Medo de ler nas tuas formas o que imagino todos os dias:
esta linguagem sem palavras que nasce em mim.



(dez/2006)