Eu sei fazer caixinhas. Nelas, escondo toda sorte de matérias. São miçangas, fitas, pedrinhas coloridas, agulhas e alfinetes, moedas sem valor, fotos e cartas, peças de antigos jogos de tabuleiro. Minhas caixinhas não são como a de Pandora. Não contêm quaisquer males. São inofensivas e, talvez, inúteis. Minto. Há dias em que algumas pulsam rancorosas; e sinto medo.
Traço nova caixa, esperando que desta vez permanecerá vazia, na compreensão exata das distâncias que nos cercam. Mas se toda grande distância não é de todo lacuna, poderia permanecer desabitado o novo espaço? Percebo minhas mãos a despregar botões de velhas camisas, amando-os como se fossem o corpo que um dia as vestiu. Não culpo estas minhas mãos. Buscam, apenas. Não um objeto, mas um halo de santidade. Algo como uma idéia. Um motivo. Qualquer sentido que as faça quedar em oração. E movem-se. Dezoito pequenas peças circulares abrigadas na caixa lilás. Lilás. Lilases são as flores nela desenhadas – o fundo em que repousam se faz entre azul e cinza, sem que possa ser dito cor de chumbo. A leveza desta combinação de cores será para sempre associada ao que na caixa está contido.
Precisarei de envelopes perfumados nesta tarde. Não conheço destinatário que os mereça; serão meus e ocuparão a caixa azul. São olhos. Pálidos. Aproximam-se de mim; sou agora o mirante. Tudo lhes pertence – toda terra, toda água e toda gente, até onde a vista alcança. Tudo. Todo o amor e toda a fúria. Poucos sentires para seu anseio em descobrir novos ares e aromas. Não. Nenhum endereço será inscrito em meus envelopes. Tremo por desconhecidas terras que jamais tomarão conhecimento de suas cores. Mas vejo, grande, a caixa azul. É um pouco céu. Um tanto mar. Em muito de sua altura, letra. Não poupo esmero e afeição no fabrico dessas caixas, mesmo quando ensaiam qualquer gesto de piedade.
Traço nova caixa, esperando que desta vez permanecerá vazia, na compreensão exata das distâncias que nos cercam. Mas se toda grande distância não é de todo lacuna, poderia permanecer desabitado o novo espaço? Percebo minhas mãos a despregar botões de velhas camisas, amando-os como se fossem o corpo que um dia as vestiu. Não culpo estas minhas mãos. Buscam, apenas. Não um objeto, mas um halo de santidade. Algo como uma idéia. Um motivo. Qualquer sentido que as faça quedar em oração. E movem-se. Dezoito pequenas peças circulares abrigadas na caixa lilás. Lilás. Lilases são as flores nela desenhadas – o fundo em que repousam se faz entre azul e cinza, sem que possa ser dito cor de chumbo. A leveza desta combinação de cores será para sempre associada ao que na caixa está contido.
Precisarei de envelopes perfumados nesta tarde. Não conheço destinatário que os mereça; serão meus e ocuparão a caixa azul. São olhos. Pálidos. Aproximam-se de mim; sou agora o mirante. Tudo lhes pertence – toda terra, toda água e toda gente, até onde a vista alcança. Tudo. Todo o amor e toda a fúria. Poucos sentires para seu anseio em descobrir novos ares e aromas. Não. Nenhum endereço será inscrito em meus envelopes. Tremo por desconhecidas terras que jamais tomarão conhecimento de suas cores. Mas vejo, grande, a caixa azul. É um pouco céu. Um tanto mar. Em muito de sua altura, letra. Não poupo esmero e afeição no fabrico dessas caixas, mesmo quando ensaiam qualquer gesto de piedade.