Eram freqüentes os dias em que, estando quietos na cama, eu suspirava e dizia: "É tão difícil, né?". Em cada uma das vezes, ele perguntava: "O quê?"
Decerto não percebia que eu já tinha aquela frase como uma interjeição; escutava-me sem ouvir. Também é possível que indagasse esperançoso de que a resposta mudasse algum dia.
Contudo, sempre respondi a mesma coisa: "Viver."
Dito isso, eu o abraçava forte ou beijava-lhe o rosto de leve e pensava (apenas pensava): "Ainda bem que tenho você pra viver comigo!".
Talvez ele não quisesse morrer comigo.
3 comentários:
Ou talvez ele já tivesse esquecido como era difícil antes de te conhecer e a pergunta, depois de repetida por tantas séculos, tivesse perdido o sentido. Incrédulo, ele aceitava ser abraçado e beijado.
Não fora você que o lançara para fora dos rituais com essas suas insistentes reticências?
...
Mas não se culpe muito. É impossível fugir de si mesmo. Se houver amor, as palavras e perguntas mal ditas se apagam e os dois morreram juntos.
E caso o amor já não exista, pense em Drummond - há sempre um consolo...
"O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua."
"Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?"
"Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas."
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