Um sopro, não uma palavra. Um sopro, não um olhar. Um sopro, não um musculo articulado. Era só um sopro para a porta não fechar, um sopro para a mala não encher, um sopro e findava-se o adeus. O gesto rotatório das areias que movem o sim e o não com um simples sopro se confundiriam e o não viraria sim e o sim não mais existiria.
Sentado no sofá assisto do décimo andar o dia que passa pelo plasma simbiótico da minha janela. O dia esta assim, parado.O ar se rarefaz sem vento, sem movimento.Os dias primaveris são lentos. O tempo da maturação da flor não é o mesmo tempo da maturação de meus ais que floriram numa pálida tarde invernal.
O tempo da maturação da flor densifica a exatidão dos sentimentos que se rarefizeram. Olho para aquele horizonte, olho para as montanhas, verdinhas, estupidazinhas e me lembro da ausência, do quarto escuro e do frio que gela as terras comodais deste apartamento, ao norte as geleiras pérfidas dos sonhos perdidos, ao sul a lareira que nunca fora acesa, a oeste seu retrato me gela os calcanhares e a leste sinto o incomodo dos alpes gelados ao tocar em suas cartas e seus dizeres.
Da minha janela o sol vai escurecendo este mundo gelado, esta é a escuridão. O frio e o silêncio da escuridão sem palavras, sem os olhos e sem promessas. E tudo é raro, e tudo é escasso, e tudo é denso, e tudo é fraco e cheio de defeitos. Seis meses, cento e cinquenta e oito dias. O dia não veio, seus olhos não vieram, as palavras não disseram, os abismos se fizeram mais altos, a morte gelada come meus membros e orgãos, decepa-me as pontas, arranca meus pêlos. E tudo é frio, e tudo é solitário, e tudo é silencioso.
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