segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cozinha II

Sempre faltam ingredientes para o algo chamado Vida
E nunca se tem receita certa para o algo chamado Amor.
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Cozinha

(porcamente inspirado na belíssima Alice Ruiz)
dias de quibebe, noites de quiabo
flores, orquídeas e gérberas
sorrisos de
dentes de alho
tormentos, choros, lágrimas
debaixo da terra como nabo
raiz forte
mesa quadriculada
incenso de macela-do-campo
pote de geléia
e gerâneo
sumo de dor eloqüente
fritado e uivado com cebola roxa
óleo quente
bote
serpenteado
falta de sal grosso
falta de caralho
falta do seu gosto
falta do meu parco avental
molhado e suado
de Hilda Hilst
cantado e melado de Alice Ruiz
sujo e fedido de
Adélia Prado
de te acender velas Colasanti
de te ler Flores Belas
(daquela mesmo que esse som possa te ter lembrado)
falta de te sentar nessa cadeira
e te reler toda minha vida
numa nota dissonante
do tempo perdido
na cozinha
preparando
dias de chuchu
sem tempero e sem orvalho,
lacrimado.
Vendo o vento levar o cheiro
o fio do cabelo,
o semblante
a suculência tardia
do coração de galinha,
derrubar a jarra de suco
de frutinhas vermelhas silvestres
que eu com tanto gosto
apanhei
e preparei
para esperar um dia da tua vida.

sábado, 23 de abril de 2011

Onde tudo começou

O poeminha que segue foi escrito em 1997, no meu último ano do Ensino Médio, durante as aulas de Simbolismo. Um pouco pesado nas aliterações e assonâncias, tal como pede o estilo; um pouco sombrio no tema, como tudo o que fazem os adolescentes deprimidinhos, rs... 

Sinistros Sons

Aparente cintilante sinfonia desvairada
Quando for, leve consigo este inferno
que, tolo, insiste habitar meu ser
Antes, porém, repouse! boa estada!

O rio que lacrimoso corre o leito,
grita as marcas mais profundas,
Segue atraente flauta indiana
Tal qual surdo murmúrio do vento.

Numa hesitante certeza, então vejo,
Um orgástico som balançar
este manto azul que nos cobre...
Azul-marinho... negro, sem único lampejo.

"Diamantes no manto costurados,
Juro agora, vos almejo."

À alquimia negra, tênue soa no ar.
Vagarosa, a dor devora a fome,
enquanto as vísceras são dilaceradas.
Eis Lúcifer a me guiar.

Não a quero mais por perto, sonora magia
Vá embora, maldita!... radiosa!
Com tanto afinco lutou que...
... exicial, por fim me acaricia.

domingo, 17 de abril de 2011

Sobre o bálsamo


§

Então... é aquilo:

- o bálsamo não tem um valor místico.

Era preciso tomá-lo nas mãos, passar com cuidado e vigor sobre as feridas e, por fim, mastigá-lo amorosamente, deixando escorrer o sumo entre os lábios.

Mas você o deixou na caixinha, e por certo perdeu a fita negra que a envolvia...

- pode apagar seus escritos, pode apagar seus tantos nomes e mesmo queira apagar sua vida: porém, não apague;

- a mim importa que derramei lágrimas sobre suas mãos trêmulas - ritual de batismo desde o qual e para sempre terá um único nome: AMADO. ------------------- Ainda que recuse ser amigo, ainda que recuse ser amante.

. é isto:

- o bálsamo era o meu corpo.

Mas você o deixou na caixinha...

§

(abril/2006)