quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Iniciantes

Duas coisas estão certas: 1) as pessoas já não se importam mais com o que acontece com os outros, e 2) nada mais faz alguma diferença de verdade. Vejam só o que aconteceu. E mesmo assim, nada vai mudar entre mim e o Stuart. Mudar de verdade, quero dizer. Vamos ficar mais velhos, nós dois, já dá para ver na cara da gente, no espelho do banheiro, por exemplo, nas manhãs em que usamos o banheiro ao mesmo tempo. E certas coisas à nossa volta são mudar, ficar mais fáceis ou mais difíceis, uma coisa aqui, outra ali, mas nada será diferente de verdade. Acredito nisso. Tomamos nossas decisões, nossas vidas foram postas em movimento e vão seguir adiante, até a hora em que vão parar. Mas, se isso for mesmo verdade, e daí? Quer dizer, a gente acredita nisso, e mantém isso escondido, até que um dia acontece uma coisa que devia mudar tudo, só que aí a gente vê que, no final das contas, nada vai mudar. E daí? Enquanto isso, as pessoas em volta da gente continuam a falar e a agir como se a gente fosse a mesma pessoa do dia anterior, ou da noite anterior, ou de cinco minutos antes, mas na verdade a gente está passando por uma crise, o coração sente que sofreu um estrago
(trecho extraído do conto Tanta água tão perto de casa - Raymond Carver)
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Why do you come here when you know it makes things hard for me?(...)I'm so sorry!
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Cena criada a quatro mãos com Anna Carolina Consenza no domingo dia 27/09, para nossa aula de montagem. O texto foi criado a partir do trecho extraído acima e de experiências de vida. Peço licença a minha querida Marcela, mas é que esse texto diz muito para mim.
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(para ler ouvindo Suedehead - Morrissey. A cena só terá sentido se for lida ao som dessa música) http://www.youtube.com/watch?v=0AvuweztG4Q
(ritmo intenso, ofegante de respiração acelerada)
Ela - Desculpa.
Ele - Porque você fez isso?
Ela – Medo! Medo de acordar de manhã e olhar pro lado e ver que você está lá!
Ele – Mas era pra ser assim não era?
Ela – Não sei!
Ele – Não sabe? Quinhentas pessoas dentro daquela igreja sabiam e você não sabe?
Ela – Esse casamento não era pra mim!
Ele - Então pra quem era?
(silêncio)
Ele – Quem é você?
Ela- A esposa.
Ele - Egoísta
Ela – você tá aqui pra quê? Pra pedir pelo amor de Deus pra eu me casar com você, pra dizer que me ama e que toda sua vida se resume a uma mulher que você nem por um segundo conseguiu perceber quem era?
Ele – Você nunca se entregou e eu sempre me doei (...) pra você me deixar plantado no altar. Caramba, eu tô aqui, você não tá se vendo? Até ontem você dizia que me amava e que a gente ia ser um só pra sempre.
Ela – A gente ia...
Ele - Acabou?

3 comentários:

marcela primo disse...

estou estarrecida e espantada como essas palavras me vestem - queria eu ter escrito isso!

Saudades gigantes.

H. Henrique disse...

Eu já tinha lido sim!

rs

Só não comentei pq qq reposta relacionada a ele não é coisa para se falar em um blog e sabemos pq...

Mas se tem algo que posso dizer é sobre esta frase: "1) as pessoas já não se importam mais com o que acontece com os outros" - talvez vc tenha demorado muito pra perceber como isso dói...

O Menino Trovador disse...

Acho que eu percebi sim há algum tempo já. O que eu acho que me chama mais atenção nesse texto é a falta de percepção do olhar e da escuta, ou do reconhecimento do conhecido que se transforma em desconhecido, terreno novo de descobertas estarrecedoras que precisa ser cotidianamente desbravado por isso acho que o que mereceria nossa atenção nesse texto é este outro trecho "(...)enquanto isso, as pessoas em volta da gente continuam a falar e a agir como se a gente fosse a mesma pessoa do dia anterior, ou da noite anterior, ou de cinco minutos antes, mas na verdade a gente está passando por uma crise, o coração sente que sofreu um estrago..."

Apesar de tudo ilustres desconhecidos...