terça-feira, 11 de setembro de 2007

Nossa Senhora dos Ventos

O fino fio de vento que entrava pelo quarto, soprava uma cantiga e brincava com os pêlos do braço da menina que olhava para fora e via um movimentar calmo de lá para cá das folhinhas das árvores, era a origem dos ventos.
Uma cigana de traços firmes, espelho na mão, saia rodada e coroa na cabeça saía para a boemia da noite, para a liberdade bacante do Breu, seu mais que velho e conhecido amigo. Cigana brava, sorria e dançava levemente e quando sua saia rodava o vento obedecia de lá para cá, de cá para lá. A cigana andava por entre matos e se sentia movida pela música que seus guisos emitiam ao bater nas pedrinhas do chão e corria, dançava, rodopiava e os ventos voavam em torno das saias que espiravam em zunidos fáceis de cantar e ela assoviava e cantava e rodava e voava num ato livre e leve de dançar, caía deitada nas relvas e dos pássaros e das terras se desposava. O vento úmido molhava a terra firme deixando um barro mucoso por entre as pernas do mato, tufões copulavam e uma prole de ventinhos nascia, um manso ranger de dentes, as mãos apertando o barro, os gemidos eólicos que batiam no telhado da cidadezinha era resultado da profanação da cigana que ventando deixava que as senhoras árvores ouvissem os ecos da noite fria. Ali eram só os ventos e as terras, a cigana e o espelho, a noite e a lua que refletida no espelhinho prenunciava um azul clarinho e um amarelinho meio avermelhado no horizonte. A cigana e seus guisos, as saias que rodavam, os cabelos que batiam, os dentes que rangiam. Logo pela manhã, os cabelos presos, os passinhos cautelosos, apenas um rebolar de quadril e o tontinho do guisinho apenas soando uma brisa fresca que movimentava a folha na água, que despetalava a ultima margarida e entrava pela janela, brincando com os pêlos do braço da menina que olhando pela janela perguntava "qual a origem dos ventinhos?"

3 comentários:

H. Henrique disse...

É... estou curtindo esse negócio de blog! Nunca tive pq não fazia sentido pra mim manter minha vida (que por vezes não satisfaz nem minha própria espectativa) aos olhos de todos! Que haveria de interessante nisso?
Então MEIO que substitui meus cadernos de confidências por ele. Tava sem graça ter um caderno sem a Lili pra compartilhar!

Mas não me respondeu se o texto é autoria sua!

marcela primo disse...

§

Sua presença é assim pra mim, como o vento e o chacoalhar de guizos e o rodar de saias cantantes e fluidas...

Sua presença é, em mim, múltipla!

- leve leve muito: ar fresquinho pra respirar;

ou ainda,

- impetuosa, tempestuosa: tormenta que arrebata meu coração!

Queria você pertinho de mim...

§

H. Henrique disse...

Achei forte! Caregado de contexto, bonito!

Assim como esse da cigana!

Obs.: Tb estava com saudades.