quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Olho



Sentado na cadeira, os olhos piscam. O quarto está vazio, fumaça, cinzas e o silêncio das auroras de meus dias. Um espelho, uma cadeira, os olhos que abrem e fecham. Sentado na cadeira, as pupilas dilatam-se, a formigação de meus ais abrem meus poros e do espelho me subtraio. Só olho o olho que se olha refletido, o olho vermelho.
O olho que abre.
O olho que fecha.
Num estado eufórico de dançar o olho se olha. Sentado na cadeira percebo que o olho é só uma metáfora do olho que vejo, é só uma metáfora daquilo que entendo. Eu que não entendo nada do que vejo.
O amor ganha um nome e está representado pela figura em cima do criado mudo, a dor ganha um nome e é representada por Januário Almeida Barbosa, o homem que se foi.
O braço não é mais o braço o braço entrelaçado é um abraço. E numa explosão de cores a mente se dissolve o vermelho torna-se azul, que se explode num amarelo derramado da gema do ovo caído, e a água da torneira com seu barulhinho azul de gotejar alucina meus ouvidos numa sinfonia fácil de executar e o branco que se funde na janela, o copo de leite se transforma em nuvem, algodão tão macio de pisar e a tinta verde que jorraram no quintal parece tão fofinha, do décimo andar sinto vontade de saltar no verde clarinho, tapete macio para se deitar. Enquanto o roxo, o lilás vão tomando conta de mim, meus sentidos se dissolvem no amarelo quentinho que vai inundando paredes, provocando gargalhadas e despertando felicidades fáceis de sentir. Ele não voltará e o quarto ali, refazendo, resignificando, numa catarse sem fim.
Sentado na cadeira, os olhos piscam.

Um comentário:

H. Henrique disse...

dias banhados no ócio que por vezes nos fazem vagar... e quão longe...