sábado, 14 de junho de 2008

"Gosto de chorar os meus mortos..."

Gosto de chorar os meus mortos e já não sei se meu murmúrio atrai estes fantasmas.

Tão distante como não acordar por um dia; tão próximo como levar a mão à boca - e eu sorrio e choro e vivo. Sei que não é meu corpo ainda clamando por luz. Não busca a luz e os espaços, meu corpo. Espera, ainda, que os mortos da última estação comecem a brotar; que eles sejam as flores a enfeitar minha mesa.

Mesa posta para o jantar. Todos bebem. Riem de seus próprios ditos espirituosos. Eu, que nunca sei bem o que dizer, ouço a tudo. Atenta, embora meus lapsos de memória não permitam que eu distinga as palavras em forma e sentido.

Mas percebe aquela formiga se movendo entre as pétalas? Silenciosa. Atônita. Mimética. Ainda há pouco, não era a mesma que vejo agora. Ou, então, é a mesma de ontem. E isso não tem a menor importância. O que me interessa são as vozes contidas em seu movimento desordenado, neste instante em que não está entre os seus. E quem, de mim, espera que eu não seja o mesmo vulto de cores e negrume contidos nas flores e nos insetos?

Sejamos bem educados. Movamos os talheres sem agitação e tentemos não acordar as crianças com nossos risos desmedidos. É preciso conter os gestos e fazer-nos sisudos para não sentirmos dor. Não preciso que me ensinem a sepultar os dias mal vividos e queria para sempre não ensinar.

10 comentários:

Rodrigo Abrantes disse...

vc escutou a voz do movimento!

;)

marcela primo disse...

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É?
rs...

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Cadinho RoCo disse...

As impressões que sentimos e passamos são sinais rastros que deixamos.
Cadinho RoCo

marcela primo disse...

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Ou rastros que seguimos quando já deveríamos ter tomado outra rota...

§

H. Henrique disse...

Não é o papel de uma formiga viver seguindo caminhos sem rota, mas sem dúvida é daquelas que o fazem, o mérito de achar comida!

marcela primo disse...

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Gu,

acho que, intuitivamente, você me disse exatamente o que eu precisava ouvir.

Por essas e outras eu sei que você é um divisor de águas na minha vida.

Obrigada, mesmo!

Te amo, Flor!

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Anônimo disse...

tão lindo.
tão bem escrito.
profundo.


eu, sinceramente, fico meio sem ter o que dizer...

:*

marcela primo disse...

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E eu fico comovida com suas palavras, Carol!

Obrigada pela presença! ^^

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Anônimo disse...

Estar viva
é viver acompanhada de palavras...
com ritmos e cores como as que você desenha seus versos
beijos Marcela
Suseli www.canetasengatilhadas.zip.net

marcela primo disse...

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Su,
obrigada por canetar aqui!

Beijo!

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