Gosto de chorar os meus mortos e já não sei se meu murmúrio atrai estes fantasmas.
Tão distante como não acordar por um dia; tão próximo como levar a mão à boca - e eu sorrio e choro e vivo. Sei que não é meu corpo ainda clamando por luz. Não busca a luz e os espaços, meu corpo. Espera, ainda, que os mortos da última estação comecem a brotar; que eles sejam as flores a enfeitar minha mesa.
Mesa posta para o jantar. Todos bebem. Riem de seus próprios ditos espirituosos. Eu, que nunca sei bem o que dizer, ouço a tudo. Atenta, embora meus lapsos de memória não permitam que eu distinga as palavras em forma e sentido.
Mas percebe aquela formiga se movendo entre as pétalas? Silenciosa. Atônita. Mimética. Ainda há pouco, não era a mesma que vejo agora. Ou, então, é a mesma de ontem. E isso não tem a menor importância. O que me interessa são as vozes contidas em seu movimento desordenado, neste instante em que não está entre os seus. E quem, de mim, espera que eu não seja o mesmo vulto de cores e negrume contidos nas flores e nos insetos?
Sejamos bem educados. Movamos os talheres sem agitação e tentemos não acordar as crianças com nossos risos desmedidos. É preciso conter os gestos e fazer-nos sisudos para não sentirmos dor. Não preciso que me ensinem a sepultar os dias mal vividos e queria para sempre não ensinar.
Tão distante como não acordar por um dia; tão próximo como levar a mão à boca - e eu sorrio e choro e vivo. Sei que não é meu corpo ainda clamando por luz. Não busca a luz e os espaços, meu corpo. Espera, ainda, que os mortos da última estação comecem a brotar; que eles sejam as flores a enfeitar minha mesa.
Mesa posta para o jantar. Todos bebem. Riem de seus próprios ditos espirituosos. Eu, que nunca sei bem o que dizer, ouço a tudo. Atenta, embora meus lapsos de memória não permitam que eu distinga as palavras em forma e sentido.
Mas percebe aquela formiga se movendo entre as pétalas? Silenciosa. Atônita. Mimética. Ainda há pouco, não era a mesma que vejo agora. Ou, então, é a mesma de ontem. E isso não tem a menor importância. O que me interessa são as vozes contidas em seu movimento desordenado, neste instante em que não está entre os seus. E quem, de mim, espera que eu não seja o mesmo vulto de cores e negrume contidos nas flores e nos insetos?
Sejamos bem educados. Movamos os talheres sem agitação e tentemos não acordar as crianças com nossos risos desmedidos. É preciso conter os gestos e fazer-nos sisudos para não sentirmos dor. Não preciso que me ensinem a sepultar os dias mal vividos e queria para sempre não ensinar.
10 comentários:
vc escutou a voz do movimento!
;)
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É?
rs...
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As impressões que sentimos e passamos são sinais rastros que deixamos.
Cadinho RoCo
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Ou rastros que seguimos quando já deveríamos ter tomado outra rota...
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Não é o papel de uma formiga viver seguindo caminhos sem rota, mas sem dúvida é daquelas que o fazem, o mérito de achar comida!
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Gu,
acho que, intuitivamente, você me disse exatamente o que eu precisava ouvir.
Por essas e outras eu sei que você é um divisor de águas na minha vida.
Obrigada, mesmo!
Te amo, Flor!
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tão lindo.
tão bem escrito.
profundo.
eu, sinceramente, fico meio sem ter o que dizer...
:*
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E eu fico comovida com suas palavras, Carol!
Obrigada pela presença! ^^
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Estar viva
é viver acompanhada de palavras...
com ritmos e cores como as que você desenha seus versos
beijos Marcela
Suseli www.canetasengatilhadas.zip.net
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Su,
obrigada por canetar aqui!
Beijo!
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